sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O menininho e a Educação Infantil

Ao ler o texto “O menininho”, de Helen Bucklev veio em minha mente um a triste situação: trabalho com Educação Infantil há 7 anos e já vi muitas professoras como a primeira professora do texto. Algumas ainda trabalham perto de mim e posso afirmar que seus alunos são como o menininho: vão se acostumando com o não poder pensar, com o receber tudo pronto... e isso é uma pena, porque a Educação Infantil é uma fase de intensas descobertas e as crianças vivem de mãos dadas com a fantasia e a imaginação...
Eu sei que a educação é complexa e difícil, que exige muita dedicação e paciência, e o mais importante: é um direito de todas as crianças! Acredito que as professoras que “podam” seus alunos deveriam se colocar no lugar das crianças e refletir sobre as marcas que estão deixando em seus alunos...
No livro “Estórias de quem gosta de ensinar”, Rubem Alves escreveu uma crônica chamada ‘A inutilidade da infância’, que enfatiza os tipos de sujeitos que são produzidos nas escolas. Transcrevo aqui o último parágrafo da crônica que se encaixa perfeitamente neste assunto:
“Conheço um mundo de artifícios de Psicologia e de Didática para tornar a aprendizagem mais eficiente. Aprendizagem mais eficiente: mais sucesso na transformação do corpo infantil brincante no corpo adulto produtor. Mas para saber se vale a pena seria necessário que comparássemos os risos das crianças com os risos dos adultos, e comparássemos o sono das crianças com o sono dos adultos. Diz a Psicanálise que o projeto inconsciente do ego, o impulso que vai empurrando a gente pela vida afora, esta infelicidade e insatisfação indefinível que nos faz lutar para se ver, depois, num momento do futuro, a gente volta a rir... sim, diz a psicanálise que este projeto inconsciente é a recuperação de uma experiência infantil de prazer. Redescobrir a vida como brinquedo. Já pensaram no que isso implicaria? É difícil. Afinal de contas as escolas são instituições dedicadas à destruição das crianças. Algumas, de forma brutal. Outras, de forma delicada. Mas em todas elas se encontra o moto: A criança que brinca é nada mais que um meio para o adulto que produz.”
ALVES, Rubem. Estórias para quem gosta de ensinar: o fim dos vestibulares.2.ed.São Paulo: Papirus, 2000.

3 comentários:

celilutz1 disse...

Querida Fernanda:
Muito pertinente e profunda a tua reflexão. Traz o retrato de uma realidade que ainda não está de acordo com o que acreditamos, por outro lado, traz pistas de como o trabalho poderia ser, apoiadas na sabedoria de Rubem Alves.
Fica para refletir: O que a Proposta Pedagógica da escola contempla com relação a esse tema?
Grande abraço.
Celi

Fernanda disse...

Oi Celi a proposta da minha escola é muito linda e rica, mas só no papel. Na realidade ainda estamos longe do que poderíamos chamar de educação ideal... Nossa proposta diz que a educação deve ser voltada para princípios éticos, que deve desenvolver nas crianças a criticidade, a criatividade e outros valores para que ela se sinta integrante da comunidade escolar e social de onde vive...
Na realidade na minha escola ainda há professoras que precisam estar sempre no controle da situação, onde as crianças devem seguir sempre suas ordens e assim não acontecem imprevistos, pois na minha opinião, se acontecessem com certeza elas não saberiam como agir.

celilutz1 disse...

Querida Fernanda:
Fico feliz por teres aceito o desafio de continuar a reflexão. E vamos acreditar que, aos poucos, os bons profissionais consigam contagiar os demais.
Grande abraço.
Celi